Morcegos passam a noite plantando no Cerrado.
Sabia que alguns morcegos passam a noite plantando espécies do Cerrado?
Conhecer os morcegos do Cerrado é importante não apenas para avaliar a diversidade biológica local, mas também em virtude do papel fundamental que esses animais desempenham na dispersão de sementes, influenciando a diversidade de plantas e atuando na regeneração de áreas degradadas.
Dispersar sementes implica em retirar a semente da fonte e deslocá-la para locais propícios à germinação, preferencialmente longe da planta-mãe. A dispersão de sementes é um serviço ambiental realizado gratuitamente pelos animais no Cerrado e garante a manutenção da dinâmica ecológica, que é importante para a conservação do bioma como um todo. A perda de qualquer um dos componentes que fazem parte da interação animal-planta poderá comprometer todo o sistema.
Os morcegos frugívoros presentes no Jardim Botânico de Brasília, na Reserva do Roncador (IBGE) e na sede da Embrapa Cerrados dispersam sementes de pelo menos 20 espécies de plantas entre as quais podemos citar:
- sementes de bromélia (Aechmea bromeliifolia – Bromeliaceae) ou gravatá. Essa planta apresenta ampla distribuição, da América Central à Argentina e ocorre na maior parte dos estados brasileiros, em áreas no nível do mar até 1585m de altitude. No bioma Cerrado esta espécie é encontrada em matas de galeria e cerrado;
- as sementes das espécies pertencentes ao gênero Piper (semente-de-macaco ou joborandi) também foram encontradas. Esse gênero de planta tem cerca de 20 tipos ou espécies que ocorrem no Cerrado, das quais seis não estão representadas nas Unidades de Conservação do Distrito Federal. Esse caso é um exemplo do importante papel dos dispersores dessas espécies para a manutenção das populações naturais;
- sementes de embaúba (Cecropia pachystachia) que ocorre em matas perturbadas e em matas de galeria também foram encontradas. A frutificação acontece de maio a setembro e essa planta é item alimentar não apenas de morcegos, mas também da avifauna.
- sementes do arbusto Centropogon cornutus (Campanulaceae) também foram encontradas sendo dispersas por morcegos. Esse arbusto ocorre em matas de galeria, cerrado e nas veredas;
- outra planta identificada foi a trepadeira Gurania spinulosa que ocorre em matas de galeria e cujo crescimento está associado às áreas perturbadas com bastante sol;
- foram identificadas também Hirtella gracilipes, Pseudomaedia guaranitica e Ficus sp. A primeira espécie é uma árvore conhecida com nome-popular de bosta-de-rato em virtude do tamanho e cor que lembram as fezes dos roedores. Esta planta ocorre na beira dos córregos e, eventualmente, pode ser encontrada em cerrado e cerradão. Pseudomaedia guaranitica é uma árvore de matas de galeria. Aproximadamente, 18 espécies pertencentes ao gênero Ficus são conhecidas para o bioma Cerrado. Esta árvore é, normalmente, conhecida como gameleira ou figueira, ocorrendo em Mata de Galeria e Mata Mesofítica;
- sementes de Amarelinho (Senna sp.), que ocorre em várias fisionomias do bioma Cerrado, também foram encontradas.
Além das sementes foi observado que os morcegos se alimentam da polpa de frutos de jatobá (Hymenaea courbaril), de frutos de Emmotum nitens, de Sacoglotis guianensis e de pelo menos duas espécies de maracujá silvestre. Eles carregam esses frutos para um pouso, onde comem a polpa, deixando a semente bem longe da planta-mãe. Esses frutos ainda são carregados algumas vezes por outros animais, como roedores e aves. Por isso às vezes se encontra um monte de frutos de baru comidos debaixo de uma mangueira.
Frutos adaptados à dispersão por morcegos (quiropterocoria), geralmente, apresentam coloração pouco conspícua (verde, amarelo, branco) e com aromas distintos. Mas existem exceções: o fruto vermelho da Calabura (Mutingia calabura) é comido de dia por pássaros e à noite pelos morcegos!
Estudos desenvolvidos na Embrapa Cerrados mostram que das 268 espécies zoocóricas encontradas em Matas de Galeria, 34 (13%) são quiropterocóricas. Morcegos, assim como outros animais, dispersores de sementes desempenham um papel importante na demografia das populações de plantas e, consequentemente, na dinâmica e estrutura das comunidades vegetais. Ou seja, preservando os dispersores de sementes estão sendo preservadas também as matas e o cerrado!